quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Bia

Hoje eu perdi o meu amor.

Há cinco anos, eu convivia junto dele, que sempre me chamava quando se sentia sozinho. Todas as vezes que eu saía, ele insistia em me chamar, até que voltasse e ficasse junto dele. Quando eu chegava, ele se tornava um grude, subindo em minhas costas e pedindo para que deitasse junto a ele.

Hora do banho era um terror. Ele sempre acreditou que poderia tomar banho comigo. Tolinho... com uma simples gota d'água, corria para longe, na tentativa de se consolar apenas em me assistir de longe. Em algumas vezes, ele escolhia a porta como camarote. E era de lá que ele me chamava, achando que a água poderia me fazer algo de ruim.

Mas, ainda assim, eu amava a hora de dormir. Eu tentava de todas as formas ir para a cama, acreditando ter despistado-o, em busca de uma noite calma de sono. Para a minha sorte, ele sabia meus horários, inclusive de finais de semana, e corria para a cama, deitando-se em cima de mim, agarrando-se para não sair daquela posição, acaso eu tentasse rolar na cama.

O meu amor tinha um nome. Albia. Ou, simplesmente, Bia.

De olhos azuis, ele conseguia me hipnotizar, com um jeitinho doce e meigo, chorando sempre que eu não o atendia.

Céus... nunca imaginei que poderia sentir tanta falta daqueles olhos azuis.

Dias antes fizemos uma promessa. Eu disse que estaria sempre por perto, que não iria largá-lo por nada neste mundo. Acredito que aquilo que vi, tendo por base a resposta que obtive, foi um "obrigado" da parte dele.

Mas após duas crises, eu comecei a me desesperar. O meu Bia estava partindo, e aquilo não era possível. Pedi que ficasse e ele me atendeu, voltando a si. Mas, ainda assim, permanecia fraco.
Na terceira e última vez, hoje, eu abracei bem forte o corpo fraco do meu amor, pedindo que não fosse embora, que não me deixasse assim, sozinha. Desta vez, os meus esforços foram inúteis, pois alguém mais forte que nós o levou para longe daqui.

Em minhas mãos, vi uma pequena vida se esvaindo. Aos poucos a respiração dele foi parando e o corpo parando de se mexer.

Eu matei o meu amor.

No dia anterior, me questionaram sobre a necessidade de levá-lo até alguém que pudesse prestar a ajuda médica necessária. Eu neguei, acreditando que ele iria se salvar... que ele iria sair dessa muito mais forte do que já fora alguma vez, provando a todos que ficaria junto de mim.

Se eu soubesse que isso iria acontecer, teria gasto rios de dinheiro para mantê-lo aqui. E a única coisa que fiz, foi negar o que lhe era necessário.

Ainda me pergunto se isso teria sido obra de Deus. Se sim... se Deus é tudo o que dizem... então por que raios ele insiste em fazer as coisas darem errado? Por que deixou meu amor sofrer daquele jeito?

Se era pra ser, que não fosse na minha frente... que eu nem soubesse disso.

Pedi tantas vezes que não me tirasse ele, e a única coisa que obtive foi um corpo inerte em mãos.

Bia era um gato, para aqueles que não me conhecem. Um gato fascinante que amava dormir comigo.

Onde quer que ele esteja, eu peço perdão por não cumprir minha promessa. Na noite anterior, deixei-o em uma cama especial, na sala, na esperança de que ele pudesse ter um espaço maior, mais aconchegante.

Foi a única noite que não dormimos juntos...

Peço também perdão por ser inconsequente, acreditando que meu amor e meus carinhos bastariam para salvá-lo de mais essa doença.

E eu vou levar a culpa por tudo isso junto de mim, pelo resto da vida...

(Você pegou na minha mão e me mostrou como. Você me prometeu que estaria por perto. Uh huh, está certo...
Com as suas palavras, eu acreditei em tudo o que me disse... Uh huh, está certo...
Eu queria poder te tocar de novo, queria poder te chamar de amigo de novo, daria qualquer coisa. Vou te manter em minha mente, até que nos encontremos de novo. E eu não vou te esquecer, meu amigo. O que aconteceu?
O tempo faz isso mais dificil, eu bem que gostaria de me lembrar. Mas eu mantenho a sua lembrança comigo, você me visita nos sonhos, meu querido.)
(Who Knew - Pink)

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